Resgate de sistema Agroflorestal e oficinas são destaque em feira de sementes e agroecologia no MS
Resgate de sistema Agroflorestal e oficinas são destaque em feira de sementes e agroecologia no MS
Foto: Raquel Brunelli
Pesquisador da Embrapa destacou o papel dos guardiões e guardiãs de sementes durante solenidade de abertura
Com o objetivo de resgatar as sementes crioulas e incentivar a troca e o armazenamento entre os agricultores, a 18ª Feira de Sementes Nativas, Crioulas e Produtos Agroecológicos de Juti- MS, reuniu agricultores familiares, guardiões de sementes, artesãos, pesquisadores, estudantes, comunidades indígenas, quilombolas, representantes de cooperativas e de instituições públicas e privadas ligadas ao desenvolvimento sustentável do Mato Grosso do Sul, Paraná e São Paulo. Durante os dias 01, 02 e 03 de agosto, foram aproximadamente 800 pessoas que visitaram ou acamparam, nos alojamentos oferecidos pelo evento, para discutir e trocar sobre a temática: “Venha agroflorestar o futuro com a gente! Soluções reais para enfrentar as mudanças climáticas e garantir a segurança alimentar”.
Para a professora da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) Zefa Valdivina Pereira, principal articuladora ddo evento ”a feira é um momento de troca, de resgate e de resistência, um momento de partilhar saberes, sementes e sabores. A semente representa a resistência: você plantar, colher, guardar, manter por gerações esta tradição, este material genético, este resgate de produzir alimento de forma saudável e limpa. As sementes crioulas são extremamente importantes para a agroecologia, para a segurança alimentar, por meio dela podemos produzir alimentos nutritivos, sem veneno”, explicou Zefa.
Como nos últimos 20 anos de feira (durante 2 anos de pandemia ela foi realizada de modo virtual), foi disponibilizado espaço para comercialização de produtos da agricultura familiar, trocas de sementes e estandes agroecológicos. O evento contou com palestras, debates e oficinas sobre temas relacionados à agricultura familiar, agroecologia, conservação da biodiversidade e sustentabilidade. Além disso, os participantes e morados da cidade puderam assistir a shows e atividades culturais da Orquestra Guarani, das duplas: Vilela e Marco Aurélio; Breno Reis e Marco Viola, entre outros.
A Superintendente do Ministério de desenvolvimento agrário no MS, Marina Nunes, esteve presente no evento apresentando o Plano Safra 2025/2026. Para ela, a feira de Juti é um momento de valorização da agricultura familiar, da agroecologia e dos saberes populares: “Este intercâmbio entre as famílias de agricultores do Mato Grosso do Sul e de outros estados é muito enriquecedor e fundamental para o desenvolvimento de toda a sociedade”, relatou Marina.
Segundo Ronaldo de Souza Costa, Superintendente Estadual do Ministério da Saúde “um evento que vem propor novas formas de produção sem o uso de agrotóxicos, que vem integrar o ser humano com o ambiente, produzindo saúde e equilíbrio é essencial. São temáticas e propostas que precisamos e devemos apresentar e levar para a população como um todo. A COP 30 vem trazer esta discussão e Juti vem se antecipando há muito tempo, com esta feira de sementes e agroecologia sendo realizada por 20 anos”, destacou o Superintendente.
Esta é a sexta edição em que Ana Andréa Jantara, guardiã de sementes da casa de sementes urbana “Casa do Amanhã” - localizada na cidade de Palmeira-PR - participa. Ela trouxe sementes de hortaliças, milhos ancestrais, flores e outras variedades possíveis de serem cultivadas em ambientes urbanos. “Para nós guardiões da agro biodiversidade a feira é um momento de valorização do nosso trabalho, onde podemos mostrar a nossa realidade, trocar e também vender. Todos aqui se unem por um mesmo propósito: cultivar e proteger as sementes crioulas, ou seja, proteger a agro biodiversidade. Participo desta e de outras feiras de sementes que ocorrem no Brasil e hoje a Casa do Amanhã possui mais de 220 variedades, que foram sendo adquiridas ao longo de muitos anos de trabalho”, explica Ana.
Agroflorestar o futuro
Este ano toda temática da feira girou em torno da reconstrução da biodiversidade e de um sistema produtivo que se assemelhe a dinâmica do cerrado ou da mata atlântica, como explica o pesquisador da Embrapa Pantanal e um dos organizadores do evento, Alberto Feiden. “Há uma grande preocupação dos agricultores familiares com as mudanças climáticas, com a transformação do cerrado, que era um ambiente extremamente diverso, em grandes lavouras de soja ou eucalipto. A intenção dos agricultores é reconstruir esta biodiversidade dentro das propriedades. Observamos durante a feira depoimentos de pessoas que chegaram em suas terras sem nenhuma arvore e que hoje já tem conseguido manejar uma agroflorestal em seus lotes, com a fauna retornando. Isso mostra para os demais produtores que um sistema agroflorestal produtivo pode ser extremamente importante, não só pelo ponto de vista ecológico, mas também econômico”, detalhou o pesquisador. “Na programação da feira, associamos as apresentações e discussões a uma série de oficinas que tratavam do aproveitamento de produtos da biodiversidade. A alimentação oferecida na feira também foi programada nesta tendência: galinhada com pequi, pães enriquecidos com jatobá, pratos com castanha de baru e bocaiuva, sucos de guavira, mangaba, etc.” concluiu Feiden.
Oficinas
A equipe da Embrapa Pantanal levou para a feira 3 oficinas, além de ter o pesquisador Alberto Feiden presente na mesa da abertura solene, além de ter sido o mediador da roda de conversa com os guardiões e guardiãs de sementes nativas e crioulas dos 3 estados participantes: “Guardando sementes e plantando saberes” e da mesa “Agrotóxicos, agroecologia e Saúde”, apresentada pelo Superintendente Estadual do Ministério da Saúde. O pesquisador foi responsável, também, por ministrar uma Oficina de caldas para controle alternativo de pragas, onde os participantes tiveram um panorama da dinâmica de populações e métodos culturais que evitam a presença de pragas, além de apreenderem receitas fáceis de caldas, compostas por ingredientes acessíveis, como cebola, alho, vinagre, entre outros.
Outra oficina muito concorrida foi a de “Semiconserva de peixe”, onde a engenheira de pesca Ana Maria da Silva ensinou aos presentes o passo a passo para fazer um produto que pode agregar renda e ser uma destinação interessante para os peixes menos valorizados comercialmente quando vendidos in natura. “Desenvolvemos um protocolo que pode ser facilmente reproduzido na cozinha da casa do aluno, com os peixes e os temperos que eles têm. Além disso, em caso de pessoas que não possuem um refrigerador para armazenar o pescado, a semiconserva é uma forma barata de manter este peixe adequado para consumo ou venda por até 6 meses fora da geladeira”, explicou Ana.
Já o técnico em agropecuária da Embrapa Pantanal, Marcos Tadeu Araújo, levou para a o evento a “Oficina de variedades de batata doce”. Nela foram apresentadas 9 variedades com colorações branca, laranja e roxa, bem como as técnicas de fazer mudas, cultivo e como se dá o controle de pragas. “Muitos agricultores não sabem a quantidade de variedades de batatas existentes, com valores nutricionais interessantes, ricas em betacaroteno e outros nutrientes. Durante a oficina, os agricultores aprenderam a reproduzir essas variedades em suas propriedades, e levaram para casa as mudas que produziram”, relatou Marcos Tadeu.
O morador do Assentamento Taquaral, Sebastião Acosta foi, pela quarta vez, até Juti para trocar sementes e participar de oficinas, entre elas a de semiconservas de peixe. “Estou levando de volta para Corumbá, além de sementes, muito conhecimento que pretendo compartilhar com outros agricultores familiares da região pantaneira. Gostaria de ter participado de todas as oficinas, mas como elas ocorreram simultaneamente, consegui assistir a 3, que foram muito didáticas. Pretendo aplicar e reproduzir dentro da comunidade onde eu moro”, declarou Sebastião. ,
A Feira foi uma realização da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD, Prefeitura Municipal de Juti, Embrapa Pantanal, Instituto Cerrado Guarani (ICG), Associação dos Produtores Orgânicos de MS (Apoms), Instituto Federal do MS (IFMS), Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural de MS (Agraer) e Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc). Conta com o apoio dos seguintes parceiros: Secretaria Municipal de Turismos, Esporte e Cultura (Setesc), Câmara Municipal de Juti, Secretaria de Agricultura Familiar (SEAF), Selini Flores e Ateliê, Ortec, Cresol, CPT, Sindicato Rural de Juti, Faculdade Anhanguera de Dourados (Faind), CporgMS, Funai, PPGBMA, Rádio Criativa FM, PPGDRS, CVT, entre outros.
Raquel Brunelli d´Avila (DRT 113/MS)
Embrapa Pantanal
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